
É sempre difícil inovar quando tudo o que há para saber sobre um assunto já foi esgotado e massacrado nos media. Todas as histórias reais já foram contadas num qualquer jornal, as imagens chocantes fizeram manchete de todos os telejornais, as teorias mais recôndidas passaram de voz em voz. Tendo tudo isto em conta, esperava-se de World Trade Center um ângulo diferente. Uma abordagem única, especialmente por ser um filme de Oliver Stone. Tal não acontece. É uma simplória visão dos aconteceimentos do 11 de Setembro, que nada acrescenta a tudo que foi documentado nos meios de comunicação.
De forma previsível, somos contemplados com cenas de melodrama barato. A técnica mais utilizada para o fazer é aquela que eu apelido de "slow-motion-drama". A câmera-lenta usada até à exaustão para realçar pormenores mais chocantes, que acaba por ter apenas o efeito contrário e, em vez de nos sensibilizarem, acabam por nos irritar. A câmera-lenta de um civil coberto de sangue com um olhar aterrorizado, a câmera-lenta de um resgate heróico, a câmera-lenta da mulher que soluça a perda do marido. Tudo o que é demais enjoa e Oliver Stone é uma náusea constante neste filme.
É certo que a história está leal aos reais acontecimentos, mas e então? Já não sabemos tudo o que se passou, já não estamos carecas de saber que os polícias nova-iorquinos são os melhores do mundo e que o 9/11 juntou a América numa gigante cadeia de solidariedade? E, convenhamos, a história não é assim tão heróica como isso. Os polícias limitaram-se a ficar soterrados todo o tempo até alguém os encontrar. Entretanto pensavam nas mulheres e nos filhos. Entretanto eu perdi todo o interesse.
Do outro lado da história, Maria Bello e Maggie Gyllenhaal são as esposas extremosas, que passam metade do tempo de filme a chorar compulsivamente. Os seus personagens são tão limitados como a quantidade de lágrimas que lhes caí do rosto. Mais uma vez, limitam-se a esperar que alguém encontre os seus maridos (preferencialmente vivos), mais uma vez pensam neles e nos filhos que poderão vir a crescer sem um pai e, mais uma vez também, eu perdi todo o interesse.
Entre o bocejo geral e o "slow-motion-drama" metido a martelo, salva-se a interpretação do olho direito de Nicolas Cage. Que por muito boa que seja, não salva a honra deste filme. Quer se goste ou quer não se goste, a verdade é que, tanto United 93 como Fahrenheit 9/11, conseguem ser mais originais na forma como abordam os mesmos acontecimentos.
World Trade Center parece seguir uma fórmula matemática para transmitir sentimentos, mas, por mais contas que façamos acabamos sempre com a sensação de que fomos enganados.

 Etiquetas: Criticas |
Não houve nenhum barco naufragado nem um meteorito em direcção à Terra?? Os épicos lamechas sempre foram aceites pela comunidade-cliché, para quê insistir em vê-los se sabemos que continuarão a fazê-los?